sábado, 17 de abril de 2010

O horror

Frio, muito frio naquela madrugada sem fim do mes de julho.
E minhas filhas, como posso avisá-las?Rezei como nunca e não fechei o olho um minuto sequer, fitando-o.
Ningúem veio vê-lo, ninguém falou de resultado de exame...Todos ocupados, muito ocupados.
É o sistema, pensei comigo mesma. Mas ele é um paciente cirúrgico particular, ele trabalha com dignidade, paga imposto, é um cidadão ético e cumpridor de seus deveres. Ele é um MÉDICO.
Nem que fosse por SOLIDARIEDADE, por CORPORATIVISMO tão falado, pela CONSIDERAÇÃO com o COLEGA, que estudou na mesma faculdade e sentiu as mesmas dificuldades de trabalho e stress de plantões .Meu Deus, esses médicos também poderiam estar no lugar dele, depois de 30 anos atendendo dignamente seus pacientes, se verem como indigentes, jogados numa maca de pronto socorro,com a cabeça caída para o lado por ser alto e a maca pequena e estreita, sem travesseiro.INDIGNAÇÃO.
REVOLTA. MEDO. TRISTEZA.ABANDONO.
O dia raiou. João em jejum.
Outro residente plantonista chegou.Assim que ele nos viu protestou:"Voces são paciente particular!!!" Voces têm que voltar para o HC campus, para internação pela clínica civil".

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